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Se no ado outros políticos
brasileiros tiveram 'agrados' questionados, agora é Lula quem está no centro
das atenções, justamente quando sua sucessora está no poder, e quando seu
partido tem declarado interesse nas eleições de 2018. Por isso, cabe a ele
justificar que o que parece ser não é exatamente. Nos últimos dias a seriedade
do ex-presidente foi posta à prova com a divulgação de um ofício do delegado da
Polícia Federal Marlon Cajado, responsável pela Zelotes, no qual ele confirma a
existência de um inquérito para apurar se o ex-presidente e outras pessoas
participaram do esquema investigado ou se foram vítimas do mesmo. Assim, Lula
entrou de vez nas duas operações da Polícia Federal: seu nome começou a ser
atrelado à Lava Jato e já é investigado na Zelotes.
O reflexo da crise na imagem do
petista se traduz em números. Pesquisa do instituto Ipsos divulgada nesta
semana apontou que apenas 25% dos entrevistados consideram que o petista é
honesto. Durante o escândalo do mensalão eram, 49% acreditavam na idoneidade do
líder. E não é só: 68% das pessoas acham que Lula não tem moral para falar de
ética, (ante 57% em 2005), e 67% disseram que a Lava Jato mostra que o
ex-presidente é tão corrupto quanto outros políticos (no mensalão 49% tinham
essa percepção). Soma-se a isso a péssima avaliação do Governo de Dilma
Rousseff, o naufrágio ainda sem socorro da economia brasileira e a
expectativa de mais um ano de martírio na relação do PT com o Congresso – sem
contar o surto de doenças com o zika vírus –, e têm-se os ingredientes que
podem jogar vinagre nas aspirações do ex-sindicalista de subir, pela terceira
vez, a rampa do Palácio do Planalto.
Os números são influenciados
fortemente pelo bombardeio sofrido pelo ex-presidente na imprensa, que colocou
sob escrutínio seu patrimônio – e de seus amigos. Alguns veículos fizeram até
mesmo o levantamento de quantas vezes Lula esteve no sítio de Atibaia (111
vezes), filmagens aéreas da região, e o cálculo do tamanho da propriedade:
173.000 metros quadrados ou 24 campos de futebol, como repetem diariamente os
noticiários. É aí que mora o perigo, segundo alguns analistas. O brasileiro
simples pode se perder dentro das notícias que falam sobre desvios de 100.000
reais ou 100 milhões. Mas ele entende perfeitamente a figura de linguagem que
chegou agora para falar sobre as posses do ex-líder sindical. Ou sobre uma
cozinha planejada adquirida para o triplex no Guarujá, pago por uma
construtora.
“Quando você fala que o mensalão
desviou milhões, bilhões, de reais, ou menciona compra de apoio parlamentar,
isso não quer dizer nada para o ‘brasileiro médio”, diz Ricardo Caldas, da
Universidade de Brasília. “Agora quando você fala em elevador privativo e
reformas no sítio pagas por empreiteiras, isso choca demais a população, que
a a ver o Lula como uma farsa. As pessoas tendem a se questionar: ‘esse era
o presidente pai dos pobres?”. Segundo ele, nesse cenário o valor envolvido na
reforma, por exemplo, não é o fundamental para provocar o desgaste da imagem do
petista, mas sim a questão dos valores e da ética.
A vantagem que Lula sempre teve em
relação a seus rivais desde que foi eleito em 2003, que é justamente o
imaginário popular sobre o homem que saiu da pobreza para olhar pelos menos
favorecidos, entra em curto-circuito neste momento em que o juiz Sergio Moro
foi elevado a categoria de herói nacional. Vale lembrar, de qualquer forma, que
o Guarujá é hoje uma praia de classe média mas está longe dos circuitos dos
milionários, assim como a cidade de Atibaia, a uma hora da capital paulista.
A polícia investiga se o sítio
seria efetivamente de Lula, embora esteja em nome de amigos, o que
caracterizaria ocultação de propriedade. Para aliados do ex-presidente, que
saiu do poder com 80% de aprovação, essa leitura é absurda. Em entrevista ao
jornal O Globo,o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, diz que
qualquer pessoa poderia comprar um sítio ou casa na praia e emprestar a alguém.
“Vamos imaginar que eu tenho uma casa na praia e disponibilize para você usar
todo final de semana, alguém tem alguma coisa ver com isso? É o caso do sítio”,
afirmou. “O problema é que não estão atrás da verdade. Estão atrás de encontrar
um jeito de mostrar que o Lula está envolvido na Lava-Jato”, completou Marinho.
Se real ou apenas perseguição
política, o fato é que já há quem duvide que o ex-presidente chegue com fôlego
de concorrer à eleição em 2018. A empresa de consultoria política e de risco Eurasia Group, que
costuma ser ponderada em suas avaliações políticas sobre o Brasil – nunca
encampou a tese do impeachment de Dilma, por exemplo – chegou a cravar em um
relatório que “Lula está fora da corrida presidencial de 2018”. Para justificar
a análise, cita um estudo segundo o qual as chances de um presidente emplacar
sucessor quando sua popularidade é menor do que 40% gira em torno de 6%. “A
aprovação de Dilma gira em torno de 10% a 15%”, diz o relatório. Soma-se a isso
“a profundidade com que o escândalo da Lava Jato já rebaixou Lula aos olhos de
70% da população”.
Caldas, da Universidade de
Brasília, hesita em tirar Lula do páreo em 2018, em todo caso. “Prova disso é o mensalão.
Todos davam ele como acabado em 2004, e no entanto em 2006 ele se reergueu e
foi reeleito”, afirma o professor, que, no entanto, vê diferenças no tipo de
escândalo que resvala no ex-presidente agora. O único cenário no qual o
cientista político vê o fim das pretensões presidenciais do petista é caso ele
seja condenado na Justiça.
O analista político Thiago de
Aragão, da Arko Advice, concorda com a avaliação de Caldas. “É complicado
colocá-lo como carta fora do baralho faltando dois anos para as eleições,
principalmente no Brasil, onde a população tem uma enorme capacidade de perdão
e esquecimento”, afirma. No entanto, ele faz uma ressalva com relação à
diferença nos momentos econômicos vividos no país à época do mensalão e agora:
“Quanto mais a economia cresce, mais a sociedade é tolerante com a política, e
o contrário também é verdade. Os anos do mensalão foram de esperança, foi um
momento positivo para a economia nacional”. Hoje, com a atual crise
econômica e o aumento do desemprego, Aragão diz existir uma parcela da
população que relaciona o “o petrolão com a crise”. “Um indivíduo que acabou de
perder o emprego e está em casa assistindo TV vê uma reportagem com os números
dos desvios na Petrobras, e faz essa associação. E no final, tudo isso é
canalizado para o Lula e o PT”.
Até o momento o ex-presidente
prestou depoimento no âmbito da operação Zelotes, que investiga a compra de
Medidas Provisórias durante seu Governo e a venda de sentenças no Conselho
istrativo de Recursos Fiscais. No entanto até o final do mês ele e sua
mulher, Marisa Letícia, devem depor na condição de investigados. Para o Instituto
Lula, "fracassaram todas as tentativas de envolver o nome do
ex-presidente no processo da Lava Jato, apesar das expectativas criadas pela
imprensa, pela oposição e por alguns agentes públicos partidarizados, ao longo
dos últimos dois anos".
De acordo com a nota, tentativas
do mesmo gênero feitas no âmbito da Zelotes também devem fracassar. Não há
nenhum elemento que justifique a mudança do tratamento. Sobre o inquérito que
irá apurar eventuais responsabilidades de Lula no caso de vendas de MPs, o
advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, afirmou que o petista
"foi ouvido no dia 6 de janeiro na condição de informante, sem a
possibilidade de fazer uso das garantias constitucionais próprias dos
investigados", e que "não há nenhum elemento que justifique a mudança
do tratamento [de tratá-lo como investigado]".
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